Depressão é a dor de apenas existir e não viver. Quando eu digo viver é porque tudo perde o sentido e a gente não vê graça nas coisas incríveis da vida. Não é fácil não ver graça em coisas que antes te deixavam feliz.
É a dor de acordar e não ter forças para enfrentar
o dia,de sentir o peso das horas que parecem não passar nunca, de sentir que
toda a sua disposição e energia ficaram na cama e que, de alguma forma, você
terá que arrumar meios para enfrentar o dia.
É a dor de querer que a semana passe rápido e de
tentar passar as horas do final de semana dormindo, de querer um remédio que te
faça dormir e acordar só quando tudo estiver bem.
Vemos tudo à nossa volta de uma forma bonita e
parece que o preto e branco pertence apenas a nós, que a luz só brilha lá fora
e que a escuridão insiste em residir dentro da gente.
A dor de não ver graça nas coisas simples e
fantásticas da vida. Aquela tarde chuvosa que te leva a assistir um bom filme,
enrolada no cobertor comendo o seu brigadeiro de panela foi substituída por
ficar deitada olhando para o nada, pensando em tudo e chorando. Uma tristeza
tão grande que chega a nos sufocar. O peito aperta, as lágrimas caem e você se
questiona de onde vem tanta dor e quando essa tempestade irá cessar aqui
dentro.
Você prefere dar um sorriso forçado e dizer que
está tudo bem, porque cansa de ser bombardeado com frases do tipo: ”Você tem de
tudo, olhe para fulano, coitado, esse sim tem motivos para estar triste, passou
por tanta coisa e está ai vivendo e sorrindo.” “Isso é frescura, é preguiça.”
Ou,” Hum, você está querendo chamar a atenção.”.
Como alguém pode pensar que o outro escolhe sofrer
para chamar a atenção? Como o outro pode pensar que é preguiça, que é frescura
sendo que o meu maior desejo é justamente sair disso? É uma luta todos os dias
comigo mesma para não ficar na cama e me esconder do mundo, de não tirar o meu
pijama e de não ter que encarar a vida lá fora. É uma luta de tentar não
desmoronar, mesmo quando o seu mundo interior está um caos. De se manter
inteiro para os outros, mesmo estando em pedaços.
As pessoas falam isso como se a gente gostasse de
se sentir assim, como se fosse imediata a melhora. Como se fosse uma gripe que
melhora com aquelas receitas da vovó. Quem me dera fosse tão rápido assim.
Talvez o alívio momentâneo encontrado, em meio a
tanta dor, é naquele tempo que alguém oferece para nos ouvir, sem tecer nenhum
julgamento; naquele abraço quando você está em prantos e naquela mensagem
inesperada que te arranca um sorriso leve. Por mais que as coisas tenham
perdido a graça, os afetos continuam sendo a nossa graça, o nosso remédio, o
nosso alívio imediato.
No mar da depressão, o meu barco – a vida – quase
quis naufragar, perdi muitas coisas nessa tempestade toda, a autoestima afundou
e com ela o meu riso fácil. Mas, depois da tempestade, vem a calmaria e, aos
poucos, a gente se recompõe e vai tentando reconquistar tudo novamente. E eu
sei, a gente consegue. Leva tempo, mas consegue.
Depressão é a dor de apenas existir e não viver.
Quando eu digo viver, é porque tudo perde o sentido e a gente não vê graça nas
coisas incríveis da vida. Não é fácil não ver graça em coisas que antes te
deixavam feliz.
Não é fácil não ter mais perspectivas quanto ao
futuro, não alimentar sonhos e não querer planejar. Não é fácil olhar à sua
volta e ver felicidade tão perto e ao mesmo tempo tão longe. É doloroso
perceber tudo isso.
Quando eu escutei a frase: “Tem gente sofrendo,
desejando viver, e você aí reclamando e sofrendo por qualquer coisa”, eu me
senti pior do que já estava, como se eu estivesse sendo ingrata com a vida,
como se eu estivesse sendo egoísta, como se sofrimento precisasse de
justificativas. Esses julgamentos nos matam e nos empurram ainda mais para o
buraco. As palavras têm poder para nos ajudar, é uma pena que elas sempre
chegam de forma agressiva até nós.
Hoje, estou certa de que posso escolher ver as
coisas de um jeito diferente, é uma escolha que reafirmo todos os dias. Tem
dias em que os ventos sopram forte demais e eu temo cair, temo não ter forças
para enfrentar.
Eu luto todos os dias pela alegria, entendi que ela
não reside nas coisas, entendi que a felicidade não está nas pessoas, ela está
em nós. Aprendi que nem todo mundo consegue ser abrigo quando a tempestade vem
e que, sim, nós iremos nos decepcionar. Iremos nos magoar e isso vai doer
muito. Vamos levar rasteiras de pessoas que amávamos e em quem confiávamos, mas
também vamos receber aquele abraço caloroso de quem menos esperávamos.
Isso se chama vida, isso é viver. E, então, eu luto
todos os dias para não sentir mais essa dor de apenas existir. Mas eu sei que
haverá dias em que tudo irá parecer desmoronar, sei que terá dias que o choro
será presente e a angústia irá insistir em apertar o peito. Mas isso, nem de
longe, significa que estou recaindo e que, sei lá, eu sou fraca demais para as
coisas.
Talvez seja só mais um dia ruim mesmo, uma semana
conturbada e a gente, de alguma forma, chateia-se com algumas coisas, é normal.
Mas, depois de um tempo, a gente consegue enxergar para além do que está posto
à nossa frente, a gente consegue ver as inúmeras possibilidades que temos de
nos reinventar e recomeçar. E então eu prefiro escolher estar perto de quem me
incentiva a ser melhor a cada dia, em quem não julga as minhas dores.
Eu acordo e posso até sentir vontade de ficar na
cama, mas logo penso que o dia lá fora está lindo e que eu posso florescer as
coisas aqui dentro. Jogo fora os espinhos que ganhei da vida e sei que as dores
e os machucados não definem quem eu sou. Eu sou metamorfose, não sou rótulos,
nem feridas, nem dores. Eu sou forte e, mesmo tendo que matar um leão por dia,
aqui dentro eu continuo prosseguindo.