domingo, 31 de maio de 2015

O Que Me Contém.

Não espere que eu seja contida. Minhas emoções extravasam minhas bordas, borbulham na superfície, transbordam de mim. 

Expresso o que me toca. Não me peça pra ser impassível. Sou feita de sentir. E meu sentir faz bagunça, sobe no palco, salta do peito. Gosto de viver assim: desmedidamente.

Quisera eu, ser feita de silêncios. Daqueles que restauram e espelham. Daqueles que traduzem. Tem muito barulho por aqui. Tem o riso solto, a alegria escancarada, a música alta. Tem a vontade de realizar e uma implicância danada com essa coisa de se bastar. Uma fé infantil no futuro. 

Sou feliz e grata com a vida que tenho, mas vivo seguindo o conselho de Fernando Pessoa: não acostumo com o que não me faz feliz e revolto-me quando julgo necessário. 

Não sei fingir sentimentos. Não sei ensaiar simpatia. Ainda não aprendi a ignorar o que me ofende.  Acomodar-me com o que incomoda. Usar o silêncio como suposta superioridade e pseudo-atestado de controle. Jamais conseguiria, vivo à flor da pele, obedeço ao coração. Meu riso será indecente quando surgido, meu questionamento será inevitável quando provocado, meu choro, um convite: conheça-me. 

Faça-me surpresas, me leve para ver o pôr do sol. Sou cativada por detalhes, uma encantada por coisas pequenas. Escreva-me qualquer frase que combine com o seu querer, apareça do nada e me presenteie com cheiros, com cores, com vinho, com móbiles e palavras. Não é difícil me fazer sorrir.

Não me queira cética. Acredito em milagres, em intuições, em abraços e em declarações de amor. Desacreditar seria desistir, seria entristecer. E eu recuso todo e qualquer convite da tristeza. Alegria é o que me inspira. Emoção o que me traduz. Acreditar é o que explica a minha vida. 

Faça-me convites, me conte uma história. Vamos deitar numa pedra e admirar o céu sem procurar saber da hora. Meu relógio para numa prosa em boa companhia.

Espere de mim ideias, perguntas e também respostas. Respostas gentis, atenciosas, debochadas ou tortas. Tem opção para todos os gostos e reciprocidade para todos os gestos. Mas não espere de mim amarguras. Não confunda a minha receita. Tenho doses de doçura e pimenta para muitas porções, mas nunca cultivei o rancor...

Espere de mim o perdão, o pedido e o concedido. Sei reconhecer minhas falhas e acredito em qualquer um até mesmo depois que me prove o contrário. Sei dar segunda chance a quem merece a quem faz valer a caminhada. E assumo todos os riscos. Prefiro assim a me confortar com serás. Sou adepta do tentar e também do refazer. 

Conte comigo, te dou meu ombro e minha sinceridade. Chegue mais perto, pegue na minha mão. Divido meus sonhos contigo, te empresto meus discos e meus livros. Dê-me conselhos, me dê espaço. Repouso no teu colo e te conto a minha história. Tenho essa mania errante de me espalhar por aí. 

Não tenho muita paciência, releve esse meu pesar. Não tenho vocação pra viver a conta-gotas. Instigue-me, mas não me provoque tanto. Me queira serena, quieta, satisfeita. Tenho febres elevadas, desejos insaciáveis, e coragens infinitas quando desafiada. 

Tenho a mania de deixar o desaforo da porta pra fora. Sabe aquele texto da Martha Medeiros que diz: "Não grite comigo. Tenho o péssimo hábito de revidar"? Pois é. Se eu pudesse, estenderia a mão e diria a autora: bate aqui. Meu maior defeito talvez seja este. Minha defesa primeira. 

Conte com a minha bondade, abrace o meu afeto, mas não subestime a minha mansidão. Não apronte comigo contando com a minha suavidade. Ainda não aprendi com a sabedoria daqueles que deixam pra lá, não compactuo com aqueles que se contém corroendo por dentro. Nessas horas extravio a educação bonita que mamãe me deu e sigo concordando que respeito é pra quem tem. 


Pareço vento e de repente eu seja mesmo. Mas veja, sou simples de se capturar. Meu parecer talvez seja este: eu simpatizo com os urgentes e me recolho na intensidade. Suplico a paciência e enlouqueço na espera. O talvez não me responda, o quase não me convence, o "não sei" me sufoca o peito e me arde toda. 

(Autoria de Y. S)


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